Casas de Peniche – Solidariedade, Repressão e Resistência

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Descrição do Projeto

O Museu Nacional Resistência e Liberdade assume como missão a preservação das memórias associadas à luta do povo português pela Liberdade e pela Democracia e as memórias associadas à resistência contra a ditadura fascista.
Adotando o lema “Lembrar Sempre”, o MNRL está a desenvolver um projeto de educação patrimonial e educação para a cidadania intitulado “Casas de Peniche – Solidariedade, Repressão e Resistência”.
O projeto consiste num Roteiro de visita a Casas de Solidariedade, Repressão e Resistência, que inclui a identificação dos lugares de memória associados à solidariedade da população de Peniche com os presos políticos, à repressão fascista e à resistência ao Regime.
Identificados esses lugares de memória, públicos e privados, há que procurar os protagonistas dessas memórias e resgatar as suas histórias, vivências e sensações. Assim, numa segunda fase do Projeto far-se-á a recolha de testemunhos junto da população, identificação de fotografias, levantamento de plantas da cidade, recolha de artigos de jornais e de publicações sobre estes lugares, bem como consulta de arquivos.

Equipa técnica:

Aida Rechena
Ângela Alves
Rosalina Carmona
Teresa Albino

Colaboração:
União de Resistentes Antifascistas Portugueses/Prof. João Neves

1ª ação do projeto - Roteiro "Casas de Peniche - Solidariedade, Repressão e Resistência"

A história da Fortaleza condicionou, ao longo dos séculos, toda a vida da povoação de Peniche. Lugar imbuído de memórias várias tornou-se, no decorrer do século XX, um dos símbolos maiores da opressão exercida pela ditadura fascista em Portugal. Lugar de encarceramento para milhares de portugueses, Peniche representava, igualmente, um outro lado, o da solidariedade e da resistência que boa parte da sua população soube opor ao regime vigente.
Esta solidariedade teceu redes de resistência ativa e outras, nem sempre visíveis ou públicas, que passavam pelo auxílio, acolhimento e apoio com donativos ou géneros aos familiares e amigos dos presos políticos encerrados na Cadeia do Forte de Peniche. Em Peniche constatamos a existência de, pelo menos, de 15 casas de acolhimento: umas de particulares que recebiam gratuitamente as famílias, outras como residenciais, pensões ou simplesmente quartos de aluguer. Alugar um quarto ao familiar de um preso de Peniche tinha as suas consequências, os proprietários chegavam a ser proibidos, ameaçados ou mesmo ver as casas vandalizadas pela polícia política, PIDE.
Regista-se a existência de restaurantes que não cobravam as refeições aos parentes dos presos, ou enviavam alimentos para os detidos na Fortaleza.
Há o exemplo do comerciante José da Costa, cuja Mercearia fiava ou não aceitava o pagamento de certos géneros para os presos, como tabaco, comida, selos de correio, etc.
A empresa de camionagem João Henriques dos Santos, de Torres Vedras, efetuou muitos transportes gratuitos de encomendas para presos da Fortaleza de Peniche.
A Oposição Democrática – CDE – conseguiu alugar casas para instalar sedes onde desenvolvia atividades de denúncia da falta de liberdades e os crimes cometidos pelo regime. Por outro lado, associações como a centenária Recreativa de Peniche, a Cooperativa Livreira Húmos, a Stella Maris, ou o CICARP, promoviam atividades de caráter cultural especialmente para a juventude, sempre vigiadas de perto pela PIDE e GNR locais.
Este Roteiro passa ainda por locais onde se travaram duras lutas dos pescadores e população de Peniche, que chegou a ver um dos seus jovens assassinados pela GNR – Francisco Sousa – em 1935 durante a “Guerra das Espoletas”, além de muitos penichenses presos por lutarem contra a ditadura.
É essa outra face humana e solidária, tão sensível e necessária aos perseguidos pelo regime, ainda viva na memória coletiva de Peniche, que este Roteiro Casas de Solidariedade, Repressão e Resistência pretende partilhar e valorizar junto do público visitante.
Para que esse tempo não volte nunca mais.