19 de Outubro de 1936
A primeira leva de prisioneiros para o Campo de Concentração do Tarrafal
Foi em 19 de Outubro de 1936 – passam hoje 84 anos – sobre a primeira leva de prisioneiros para o Campo de Concentração do Tarrafal, ou Campo da Morte Lenta como ficou conhecido entre os prisioneiros. Ainda hoje não se sabe com exatidão quantos foram os cidadãos portugueses que o regime fascista enviou para o Campo da Morte Lenta.
O Museu Nacional Resistência e Liberdade recorda aqui os nomes daqueles que são conhecidos e a quem presta a mais sentida homenagem.
António Fernandes Baptista | António Guerra| António Carlos Castanheira| António Teodoro| António Marreiros | António Jesus Branco | António Dinis Cabaço| António Nunes| António Gonçalves Saleiro| António Gonçalves Coimbra| António Fernandes Almeida Jor.| António Franco da Trindade| António Gato Pinto | António Jorge Marques| António Vicente Carvalho| António Enes Faro| António S. Marcelino Mesquita |Augusto Costa | Arnaldo Simões Januário| Alfredo Caldeira | Armindo Amaral Guimarães| Armindo Fausto Figueiredo| Acácio José da Costa | Acácio Tomás Aquino |Américo Fernandes | Américo Gonçalves de Sousa | Ariosto Mesquita | Afonso Pereira | Artur Esteves | Álvaro Duque da Fonseca | Álvaro Gonçalves | Álvaro Ferreira |Aníbal dos Santos Barata | Adolfo Teixeira Pais| Abatino da Luz Rocha | Armando dos Santos Callet | Abílio Gonçalves| Abílio Gonçalves Garradas | Adelino Alves | Bento António Gonçalves | Bernardino Augusto Xavier |Bernardo Casaleiro Pratas| Boaventura Gonçalves | Cândido Alves Barja | Casimiro Ferreira| Carlos Martins Sevela | Carlos Ferreira |Custódio Rodrigues Ferreira | Custódio da Costa| Domingos Rodrigues Quintas| Ernesto José Ribeiro | Eduardo Valente Neto| Edmundo Pedro | Francisco Domingues Quintas | Francisco Augusto Belchior| Francisco Silvério Mateus | Francisco José Pereira | Fernando Alcobia | Fernando Quirino | Fernando Vicente | Fernando Cruz | Franklin Ferreira de Azevedo | Felicíssimo Ferreira | Filipe José da Costa | Gabriel Pedro| Gavino Rodrigues| Henrique Val Dom. Fernandes| Henrique Ochsenberg | Hermínio Martins | Isidoro Felisberto Canelas | João Lopes Dinis| João Faria Borda | João da Silva Campelo | João Maria | João Galo Gomes | João Garrido| João Machado| João Martins Leitão | João Gomes Jacinto| João Rodrigues | Joaquim Gomes Casquinha | Joaquim Marreiros | Joaquim dos Santos | Joaquim de Sousa Teixeira | Joaquim Ribeiro | Joaquim da Cruz Dias | Joaquim Jacinto | Joaquim Pais | Joaquim Luís Machado | Joaquim Faustino de Campos | Joaquim Pedro| Joaquim Duarte Ferreira | Joaquim Montes | José Neves Amado| José Barata Júnior | José António Filipe | José Bernardo| José Soares | José Maria Videira | José Luís Marques Lebroto | José Maria de Almeida Jor. | José Tavares Almeida| José de Sousa Coelho| José Gilberto F. Oliveira| José de Almeida| José Severino Melo Bandeira | José Ramos Vargas| José Borges Celeiro | José Ramos dos Santos| José Ferreira Galinha| José dos Santos Viegas | José Alexandre| José Ventura Paixão | José Jacinto de Almeida | Jaime de Sousa | Jaime Tiago | Jaime Francisco Rosa| Júlio Ferreira | Júlio Marques | Júlio de Melo Fogaça| Josué Martins Romão| Jacinto de Melo F. Vilaça | Luís Marques Figueiredo| Luís Pires| Luís Martins Leitão |Luís da Cunha Taborda | Leonildo Anunc. Felizardo | Mário Santos Castelhano | Manuel Amado dos Santos| Manuel Rodrigues| Manuel da Graça| Manuel Henriques Rijo | Manuel Rodrigues da Silva| Manuel Rosa Alpedrinha| Manuel Pessanha | Manuel Augusto da Costa| Militão Bessa Ribeiro| Oliver Branco Bártolo| Pedro de Matos Filipe |Pedro dos Santos Soares | Patrício Domingues Quintas| Rafael Tobias Pinto Silva |Raul Vieira Marques | Rodrigo Ramalho |Silvino Leitão Fern. Costa| Sérgio de Matos Vilarigues| Tomás Baptista Marreiros | Tomás Ferreira Rato| Virgílio Martins | ? Miranda | ? Rebelo.
Lista publicada na obra TARRAFAL Testemunhos, ed. Caminho, 1978, pgs 281-285, 1a edição. Nesta obra consta ainda o nome de Manuel Pereira dos Santos, no entanto com uma interrogação quanto ao ano em que terá chegado, se em 1936 ou já em 1937. Além desta lista surge ainda um outro nome, Armando Martins de Carvalho, mas em: casacomum.org/cc/visualizador (ver aqui). No entanto, o nome de Armando Martins de Carvalho, surge num documento do Arquivo Nacional Torre do Tombo, mas referindo que chegou ao Tarrafal em 1939.
A partir de 1950 as instalações da Cadeia do Forte de Peniche foram objecto de profunda remodelação. O edificado actual, onde está a ser instalado o Museu Nacional Resistência e Liberdade, é o resultado da reconstrução do espaço carcerário que vinha dos anos 30 do século XX, quando ali foi instituído o Depósito de Presos de Peniche sob a alçada da PVDE. Após o 25 de Abril os pavilhões prisionais, com particular relevância para o Pavilhão C, sofreram modificações na sua estrutura que, não sendo muito significativas, alteraram a percepção do espaço prisional construído nos anos 50 com projecto do arquitecto Rodrigues Lima. São essas transformações e adaptações que o espaço prisional sofreu que, pretendemos assinalar neste artigo para melhor compreensão e memória futura.
Rosalina Carmona
Acerca do tipo de castigos e os locais usados na Fortaleza Militar de Peniche onde eram praticados, é importante saber onde se localizavam e, para memória futura, fazer o seu mapeamento. Passados que são 47 anos sobre o 25 de Abril de 1974 e a libertação de todos os presos políticos na madrugada de 27 de Abril, com o posterior encerramento da prisão, importa, pois, recorrer ao testemunho dos presos políticos e ao confronto com outras fontes, confirmando-se, deste modo, que as celas disciplinares eram locais de tortura e sofrimento, onde tinha lugar a violência física e psicológica exercida pela polícia política PVDE/PIDE/DGS sobre os resistentes antifascistas. Na prisão de Peniche, elas funcionaram em diferentes dependências da Fortaleza Militar. É a identificação e caracterização desses locais que aqui procurámos mapear.
Rosalina Carmona
A Polícia Internacional de Defesa do Estado – PIDE – foi criada pela ditadura fascista em 22 de outubro de 1945. A sua principal função foi a repressão política, a perseguição, a prisão, a tortura e até a eliminação física daqueles que o regime de Salazar e Caetano considerasse opositores ou inimigos.
Tornando-se o principal esteio do regime fascista, a PIDE, contou com inúmeros mecanismos repressivos, com que justificava o exercício legal da violência pelo Estado.
O uso das mais bárbaras torturas nas cadeias fascistas era prática corrente das polícias políticas nos interrogatórios aos presos, tanto em homens como em mulheres. A PIDE detinha poderes plenos e uma autonomia praticamente total para prender, torturar, arrancar confissões e até matar.
O que ressalta da leitura deste documento é um completo controlo da liberdade de expressão e uma total ausência de direitos. As sansões e castigos podiam ir da proibição de visitas e receber correio até sete dias; prisão em cela disciplinar a pão e água e regresso a um período anterior ao da execução da pena, entre outros aspetos bastante gravosos para os presos políticos. Este documento revela, pois, muito do quotidiano da vida dos prisioneiros políticos de Peniche, permitindo uma visão mais aproximada daquele universo carcerário repressivo.
A URAP entregou ao Museu Nacional Resistência e Liberdade – Fortaleza de Peniche, um conjunto de peças de grande significado composto de documentos, objetos e testemunhos, na sua grande maioria pertencentes a antigos presos políticos do Campo de Concentração do Tarrafal. Neste conjunto o que mais impressiona, pelas emoções que desencadeia, é um álbum de fotografias realizadas quando Herculana Carvalho, mãe do prisioneiro Guilherme da Costa Carvalho, num gesto de extraordinária coragem e resistência desafiou o regime fascista e foi visitar o filho ao Campo de Concentração do Tarrafal. Herculana Carvalho foi a única visita que os prisioneiros do Tarrafal alguma vez receberam. No regresso ao continente, junto com o seu companheiro Luís Alves de Carvalho, percorreram o país visitando os familiares dos presos para lhe levar notícias e lembranças dos seus entes queridos enviados por Salazar para o “Campo da Morte Lenta”.
Este artigo aborda alguns aspetos do regime prisional em Peniche antes da construção da cadeia de alta segurança, entre os anos de 1937-1950. Do relatório de uma inspeção à cadeia em 1950 ressalta que o regime prisional era demasiado rígido e ríspido, que a direção da cadeia adotara medidas e restrições excessivas e muito duras, não cuidara de dotar as instalações com o mínimo de condições indispensáveis para a vida diária dos presos, efetuava cortes nas despesas em alimentação, no fornecimento de roupas e produtos de higiene como o sabão, cortava nas despesas com a saúde dos presos, excedia-se nos castigos extremamente severos.